quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Coifas & Depuradores


Um adolescente, quando o destino lhe dá asas e ele vai voar longe da família, experimenta uma imprevisível dose de liberdade e outras generosas de aprendizado. Desfruta-se de coisas boas morando com outros estudantes numa cidade universitária, mas também é comum se esborrachar no duro chão da convivência indesejada.

No meu caso, posso dizer que um momento chegou, enfim, lá pelos vinte e poucos anos de idade, em que me cansei de todas as pessoas deste ingrato planeta. A essa altura, já tinha me formado na faculdade e fazia jus a um modesto salário como jornalista da câmara de Contagem. Era o suficiente para poder mudar de fase.

Queria um canto só meu. Entrar em casa e encontrar o prazeroso silêncio e a valiosa solidão. Andar pelado e ligar o som. Abrir as janelas, a cerveja, uma revista e o chuveiro – tudo ao mesmo tempo, sem incomodar ou ser importunado.

Acabei descolando um cafofo onde mal cabiam uma cama de casal e um lugar de pendurar a toalha. Pensei: “Maneiro. Para começo de conversa vou comprar uma vassoura. E um sabão”.

É aí que começa o caso.

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Cheio de ânimo, rumei ao supermercado e me aventurei pela misteriosa seção de materiais de limpeza. Ali conheci um universo cheio de complicações. 

Antes de alcançar o simplório sabão, fui apresentado a seus semelhantes sofisticados: alvejante e desinfetante. Passei direto pelos solventes.

Mais adiante, me deparei com os inoportunos clorados e os inúteis limpa-fornos. Por outro lado, achei um barato os chamados saponáceos. Não quis comprar nenhum desses.

Descobri que um pano, para ser alguém na vida, precisa ser um pano multiuso. Quase tropecei num estoque de desentupidores. Tive vontade de chutar as esponjas sintéticas e os polidores de metal, para bem longe.

Os amaciantes, com diversas cores e fórmulas, por suas vezes, me cativaram pelo perfume sublime. Paquerei também os eficientes lustradores e as simpáticas pastilhas para ralo.

Imaginei que os odorizadores de ambiente, quando crescessem, gostariam de ser bem-sucedidos limpadores perfumados. Mas logo me dispersei.

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Por fim, decidi levar uma cera líquida, um álcool em gel e um negócio de eucalipto. Ah, e achei muito interessante um pacotinho em que estava escrito Coifas e Depuradores. Também ocupava a prateleira, perto das lãs de aço.

Eu sabia, e qualquer avestruz também sabia... era só jogar no Google para descobrir qualquer coisa. Mas todo aquele episódio me fez perceber que eu estava perdendo minha inocência. 

Por isso, decidi:

Eu jamais pesquisaria sobre o que vêm a ser Coifas e Depuradores.