segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Divagações metropolitanas

A pressa que assola o aglomerado de cidadãos nas estações de metrô me deixa encafifado. Adolescentes, senhoras, gordinhos ou mocinhas: todos eles na correria. Mas para que? Por acaso presumem que o lugar para onde vão está muito melhor do que o lado de cá? Ou, de outra forma, por aqui está tão ruim que eles não vêm a hora de chegar a seus respectivos destinos?

Aquele japonês com cara de doidão, se desacelerasse o passo, perceberia que há muitas maneiras de se distrair em meio às conexões metroviárias. Eu, que caminho lentamente, sempre organizo, secretamente, concursos de beleza feminina. A cada viagem, desfilam pela minha passarela centenas de candidatas a caminho do vagão. A disputa segue com o trenzinho em movimento. Além da Musa do Dia, são premiadas a Miss Simpatia e a Miss Coroa.

Quando não estou apreciando a beleza exterior das mulheres, julgo o caráter dos usuários em geral. Por meio de uma análise superficial, consigo desvendar com precisão a idade, a profissão e o estado civil dos metropolitanos. As professorinhas são facilmente identificadas. Alguns têm cara de Geraldos, outros moram com a avó. Há os que claramente gostam de assistir corrida de automóveis pela TV. E os que enviaram seus currículos e agora se dirigem, com ansiedade, a entrevistas de emprego.

Só não absorvo a razão pela qual sempre sobem as escadas atropelando uns aos outros...

Tem aqueles caras que já foram presos, ou em breve o serão. As senhoras que não suportam mais ficar dentro de casa com seus maridos aposentados, entediados e rabugentos. As graciosas voluntárias que se fantasiam de palhaças para animar eventos infantis na pracinha. Às segundas-feiras, sou capaz de identificar os torcedores que ostentam, contentes, os símbolos do time de sua preferência. Até esses se locomovem rapidamente.

Interessantes também são as distintas procedências da rapaziada. Aquele grupo de moleques de boné mora em uma cidadezinha dos arredores da capital. Fazem um curso profissionalizante. A donzela de cachinhos nasceu em Goiás. Trabalha o dia inteiro e despende todo o seu salário para custear a faculdade noturna de Administração. Isso talvez explique porque anda tão afoita.

Somente aqui, neste vagão, há um garoto de programa, uma advogada cujo automóvel está na oficina, um menininho que fugiu de casa, uma enfermeira muito católica, um capiau que nunca andou de metrô, um caboclo gente boa que dormiu na casa da sogra e um desempregado que acordou cedo à toa. São diferentes interesses e realidades que convergiram para a mesma caixa de metal que se arrasta sobre os trilhos! E todos eles, como já mencionei, atravessam voando entre as roletas.

Eu, por exemplo, quem passa correndo nem imagina!, sou de Monlevade. Estava no Espírito Santo no fim de semana, prestando um concurso público. Cheguei às sete da manhã na estação São Gabriel, no leste de Belo Horizonte. Estou a caminho de Contagem, no extremo oeste, onde desembarcarei e tomarei outro coletivo para chegar ao trabalho.

Como só bato o ponto às nove, não tenho o mínimo de pressa. Por isso estou tranquilo, e sigo meu rumo observando tudo. Devagar. E divagando.